Depois de explicar para você o que é o storytelling e como usar essa técnica narrativa, hoje queremos mostrar alguns reflexões de como gerar valor com o storytelling e como utilizar, na prática, nas redes sociais.
Tenho realizado cerca de três ou quatro reuniões por semana. Todas elas muito “parecidas”. São produtoras audiovisuais em parceria com alguma empresa (cliente, agência, ONG, corporação, instituição, etc.), que se reúnem para me explicar uma necessidade de roteiro audiovisual. Geralmente os briefings são muito similares: “precisamos fazer um vídeo que mostre a empresa de outra forma”.
Eu posso olhar pra situação acima de duas formas.
1 – No primeiro caso, eu visito a empresa, pego o material fornecido, levo pra casa e escrevo um roteiro a ser filmado. Simples e rápido. Sem frescura. Logo em seguida o dinheiro está na minha conta. E lá vou eu pras próximas reuniões. É fácil. Mas tem uma tendência incrível para um movimento que eu chamo de bola de neve pré-fabricada. Ou seja: eu estou me repetindo e aumentando meu fluxo de repetição roteiro pós roteiro.
2 – Em uma segunda opção: eu visito a empresa, pego o material fornecido, levo pra casa, estudo, aciono minha equipe e juntos diagnosticamos a essência da empresa, em busca de um Projeto Narrativo, e trabalho com storytelling.
Quando eu analiso os dados de uma reunião e acredito (inocentemente!) que ela é sempre igual, eu estou desrespeitando o cliente. Ela é igual pra mim, que faço isso toda a semana. Porém, ao cliente, que está gastando uma grana fdp pra fazer um audiovisual gigante, é como jogar a Copa do Mundo. Se eu passo por cima disso é porque eu não percebo ou (pior) eu não me importo com a transformação e evolução do outro.
Daniel Goleman, no livro Foco, fala muito sobre autoconsciência. O autor apresenta dados que comprovam que os maiores líderes do mundo estão ou estavam interessados em transformar a realidade interior e exterior ao mesmo tempo: a sua realidade e a do outro. Sem diferença. É como se o roteirista pudesse olhar pra empresa, notar a instituição como um todo, um organismo vivo e trazer o seu conhecimento pra dentro de um momento único. Entender que cada sistema se integra de uma forma e nenhuma reunião é igual a outra.
Fazer isso, requer questionar-se com três bases, sugeridas pelo mestre Dalai Lama:
1 – É apenas para mim, ou para os outros?
2 – É para benefícios de poucos, ou de muitos?
3 – É para agora, ou para o futuro?
Toda a vez que me chamam para um trabalho, (cinema ou publicidade, tanto faz) eu preciso me questionar sobre isso. Seria um egoísmo da minha parte aceitar um trabalho grande, com um cachê bom porque isso faz bem pra mim, apenas. Seria um egocentrismo incalculável olhar para a empresa que está me pagando e pensar simplesmente que isso vai beneficiar o meu currículo. Aliás, essa percepção está invertida.
O seu currículo será atingido positivamente quando você gerar valor ao outro.
Por isso, muitos filmes (ou obras de arte) são chatos e discursivos. É porque o autor, geralmente, quer enfiar na sua goela uma percepção. Ele não entende o público e acha que sabe mais. Vendo dessa forma fica fácil entender o porquê 90% dos comerciais e da publicidade são sempre iguais. É porque parte-se do pressuposto de que os criativos sabem mais que o cliente. Quando no fundo é a essência do próprio cliente que vai conduzir a criatividade. Se não for assim, estamos fadados à repetição.
Nesta busca por mensagens que toquem o outro e resultados acima da média, nasceu o GPR, ou Guia Prático do Roteirista, meu curso online. Você pode conhecer um pouco mais dessa proposta na Semana GPR, sete dias de conteúdos gratuitos e online que convidam você a este mergulho no processo narrativo. Clique aqui pra se inscrever.
Fala-se muito em Gerar Valor. Mas só se gera algo ao outro quando temos a capacidade de nos colocarmos no lugar deste outro. Empatia constante. E utilizo aqui a palavra “constante”, pois deve ser uma busca real e cotidiana, disciplinada. Não basta eu sentar na mesa de reunião e ouvir o cliente, me colocar no lugar dele. No momento de criar, estruturar e escrever o filme, eu preciso sem deslize aquecer simultaneamente essa empatia. Está sempre presente.
É por isso que montei uma equipe e hoje trabalhamos em quatro roteiristas. Dessa forma estamos bruscamente ativos nessa percepção aguçada do outro. Dia pós dia, trabalho pós trabalho, buscamos o diferencial daqueles que nos contratam. Entendendo isso como um fator primordial, que nos faz entregar um produto acima da média, nós passamos a evoluir também como pessoas e profissionais.
Não são palavras em um roteiro que estão em jogo, são o que essas palavras vão fazer no cotidiano do outro.
Aos poucos ocorre um cruzamento. Nosso conhecimento se une ao diferencial do outro. Ambos trocam essenciais. A margem de “lucro bruto” e de ganho em cada processo sempre aumenta. O que ocorre perceptivelmente é que nossa conquista hoje é levada para o cliente de amanhã. E isso não para nunca. Basta querer gerar valor, de forma íntegra – e não porque a expressão está na moda.
O diferencial do seu storytelling
Você já deve ter ouvido falar: “quem cobra menos prostitui o mercado”. Correto? A frase até pode parecer interessante de ser dita na mesa de bar ou em algum evento tomando espumante. Mas geralmente quem diz isso é quem não sabe calcular o seu próprio valor.
Você sabe quanto vale o seu trabalho?
Valor não é preço. Valor é quando só você pode realizar algum trabalho. Por exemplo: um especialista em narrativas para games se destaca muito mais que um especialista em narrativas. Se você criou um jogo e precisa de um Storyteller, possivelmente você vai preferir o especialista. Ele cobra mais, mas acerta mais, resolve o que você precisa.
Um dos homens mais ricos do Brasil era padeiro. Ele comprou a padaria na qual trabalhava e hoje tem uma rede de lojas. Ele só faz uma coisa: vende pães. Em vários lugares do país.
Quando você tem um diferencial, ninguém lhe derruba. Não existe concorrência para quem tem diferencial. Ninguém contrata um roteirista (ou qualquer pessoa) pelo preço. Contrata pelo VALOR.
Mas para isso você precisa descobrir o que tem de diferente. Qual seu diferencial?
Primeiro de tudo, você não pode se contentar em estar na média. Se você passou na média em toda a sua vida escolar, chegou a hora de parar um pouco e pensar sobre isso. Quem está sempre na média é medíocre. A definição da palavra mediocridade é ser mediano. E como sair disso?
Eu percebo que o movimento inicial é se responsabilizar. Estar presente para o fato de que ninguém vai dizer: “nossa, o seu diferencial é escrever rápido”. Cabe a você responder:
- Quais meus pontos fortes?
- Quais meus pontos fracos?
- Como vou fortalecer meus acertos?
- Como vou excluir meus erros?
A partir disso você vai buscar. Se aperfeiçoar, se aprimorar, ler mais, estudar mais, mergulhar mais. Diferencial não quer dizer apenas se especializar. Quer dizer vivenciar, autoconhecer-se, trazer outras realidades para o seu mundo profissional.
Sabe a história do padeiro que contei acima? Eu vi numa palestra sobre economia e finanças. O que um roteirista fazia numa palestra com esse tema? Conhecia novos rumos, novos caminhos. E trazia isso para o mundo diário da escrita criativa.
Ao responsabilizar-se você se abre para um mundo novo. O mundo real, composto de diversos pensamentos e não apenas o seu. Meditar, fazer natação, ler sobre empreendedorismo, conversar com o garçom, com a sua tia avó, ver novela e ver filme autoral. Todo o foco está no seu diferencial.
Aos poucos, você vai perceber que todos os aprendizados se conectam em algumas áreas de sua profissão. Todo filme de comédia romântica (que talvez você odeie) vai ser direcionado para você entender as estruturas fílmicas.
Uma pessoa na média diz: “eu não vejo comédia romântica, porque faço filmes autorais”. Uma pessoa aberta e com diferenciais claros diz: “eu vejo comédia romântica porque ela me ensina alguns pontos essenciais para meus filmes autorais”. Entende?
Ao compreender isso, você para de reclamar. Em contrapartida, tudo acaba se direcionando para a sua criação. Nada é aleatório. E o seu diferencial vai se consolidando. Você percebe algo que 90% das pessoas não percebe: um degrau por vez. Na maioria dos casos é mais fácil reclamar do colega que cobra a metade e dizer que ele prostitui o mercado.
É fácil reclamar porque estão lado a lado, no mesmo degrau. Subir é cansativo.
Você sobe um degrau quando esquece esse “concorrente” que prostitui o mercado. Você não está nem aí pra ele. Sabe por quê? Porque você está fugindo da média. Você está deixando de ser medíocre. Quando você cobra 10 e o seu concorrente cobra 5, isso é muito bom pra você. Porque existem pessoas dispostas a pagar 10. É nelas que você deve mirar.
Você pode dizer: “vou fazer um trabalho por 5, mas geralmente eu cobro 10”. Mas você faz isso conscientemente. O problema é quando você se contenta com o 5. E esquece do 10. Faça todos os trabalhos no nível 10. Mesmo que você ganhe 5. Essa é uma dica imprescindível para crescer. Você está jogando a série B, com um time de Série A. Qual o resultado disso? Logo você sobe pra jogar com os grandões.
Não adianta jogar a série B pra ficar na B. E isso é diário, ok? Não é pra chegar lá. É pra hoje, dia a dia, palavra por palavra. O seu diferencial nasce da ação e do cotidiano. É necessário planejar, mas é muito mais necessário agir. Colocar em prática o diferencial.
E aí entra a satisfação de quem lhe contratou. Um cliente (aqui você pode ler: um diretor, um produtor, uma agência) fica satisfeito quando você entrega a média, o que ele pediu. Um cliente se surpreende quando você entrega além da conta, acima da média.
Você não joga pra ganhar. Você vai golear. O seu valor e o seu preço aumentam. O cliente lhe chama de novo e lhe indica para outros clientes. Você tem um diferencial. Sabe surpreender. Você pode esquecer o cara que prostitui o mercado.
Como usar o storytelling no conteúdo das redes?
Uma estrutura poderosa que encontrei pra reter a atenção do público é trabalhar com o que chamo de Entrega Racional-Lúdica-Racional.
Dia desses meu filho, de 4 anos, me perguntou se a gente poderia comprar uma Limusine. Eu ri. Mas ele não tem nenhuma noção de quanto custa um carro desses.
Perguntei se ele achava que a Limusine caberia na nossa garagem. E ele disse: “não vai caber né, pai, melhor não comprar”. Se eu tivesse dito que não, sendo totalmente racional, possivelmente ele não entenderia o porquê.
Você vai fazer o mesmo com o seu leitor.
Passo a passo para storytelling nas redes sociais:
1 – Diga racionalmente o que o leitor quer ouvir. “Agora vou ensinar você a…”. Isso servirá como gancho para que haja retenção clara nos primeiros momentos.
Você sabia que as primeiras 150 palavras são responsáveis por 85% do engajamento de um público? Isso vale inclusive para uma palestra de 1h ou para um filme de 2h.
No entanto, aqui é importante destacar: seja racional mas seja criativo, ok. Vamos seguir.
2 – Conte uma história que ilustre o ensinamento. Após ser direto e ganhar a atenção, ganhe o coração do público. Traga uma narrativa (pode ser real ou ficcional) que seja uma metáfora do que você quer dizer com o conteúdo.
Aqui também vale um estudo de caso ou um case que você garimpou na internet.
3 – Entregue o conteúdo. Entregue o que realmente você tem a dizer. Seja racional.
Perceba como, neste ponto, você já está sendo único, pois entregou informação totalmente diferente do que qualquer pessoa entregaria. Mas o mais importante: faça conexões com o lúdico.
Quando lancei uma pergunta ao meu filho, minha intenção era simplesmente movimentar ele de uma resposta simples (sim ou não) para uma resposta construtiva.
É isso que você faz. Até no cérebro e no coração do público, entregando uma postagem Racional-Lúdica-Racional.
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